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25/01/2012




O vento na ilha
Pablo Neruda

O vento é um cavalo
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.

Quer me levar: escuta
como percorre o mundo
para me levar longe.

Esconde-me em teus braços
nesta noite tão erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
a boca inumerável.

Escuta como o vento me chama galopando
para me levar longe.

Tua fronte na minha,
tua boca na minha,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem me poder levar.

Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu, mergulhado
nos teus imensos olhos
por esta noite imensa
descansarei, meu amor.

24/01/2012

Huelga / Gioconda Belli




Quiero una huelga donde vayamos todos.
Una huelga de brazos, de piernas, de cabellos,
una huelga naciendo en cada cuerpo.
Quiero una huelga
de obreros de palomas
de choferes de flores
de técnicos de niños
de médicos de mujeres.
Quiero una huelga grande,
que hasta el amor alcance.
Una huelga donde todo se detenga,
el reloj las fábricas
el plantel los colegios
el bus los hospitales
la carretera los puertos.
Una huelga de ojos, de manos y de besos.
Una huelga donde respirar no sea permitido,
una huelga donde nazca el silencio
para oír los pasos del tirano que se marcha.


México 1976



 Poeta e revolucionária, Gioconda Belli funde o erótico ao político, o verbo e o fogo com a autoridade de quem já conquistou o prêmio literário Casa das Américas (em 1978) — um dos mais importantes em língua espanhola — e militou na Força Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) que derrubou o ditador Anastacio Somoza, em 1979, interrompendo a dinastia que dominou a Nicarágua por 43 anos.
Em duas palavras, sofrimento e gozo. Daí a fascinação que a personagem Lavínia, uma arquiteta recém-formada na Europa que vai trabalhar em Manágua, nos provoca. Ela é uma espécie de alter ego da autora, que se bacharelou em Madri. Lavínia acaba cedendo aos ideais da luta armada, ajuda a construir uma Nicarágua mais livre e seduz com seu heroísmo libertário.
Agora busco A mulher habitada para reler, pois não tenho anotado a origem do livro, que não consta do registro de minha biblioteca pessoal.
Gioconda Belli nasceu em Manágua, Nicarágua em 9 de dezembro de 1948. É autora de uma importante obra poética de reconhecido prestígio internacional. Entre a sua poesia, publicada em sete países, destacam-se: Sobre la Grama (Prémio Mariano Fiallos Gil, 1974), Línea de Fuego (Prémio Casa de las Américas, 1978), Truenos y Arco Iris (1982), Amor Insurrecto (1984), DE lá Costilla de Eva (1986), El Ojo de la Mujer (1990), Apogeo (1997) e Mi Íntima Multitud (Prémio Internacional Generación de 27, em 2003). O seu primeiro romance, La Mujer Habitada (1988), foi traduzido para onze idiomas com enorme êxito, especialmente na Alemanha, onde superou um milhão de exemplares vendidos e obteve o Prémio dos Bibliotecários, Editores e Livreiros para o Romance Político do Ano em 1989, além do Prémio Anna Seghers da Academia das Artes. É ainda autora dos romances Sofía de los Presagios (1990) e Waslala (1996), do conto inafantil El Taller de las Mariposas (1992) e de El País Bajo mi Piel (2001), o seu testemunho-memória do período sandinista. Desde 2004, Gioconda Belli é membro da Academia Nicaraguense da Língua. Publicada pelas mais prestigiadas editoras do mundo, Gioconda Belli vive, desde 1990, na Califórnia.





22/01/2012

De que serve a bondade?


Bertold Brecht

1
De que serve a bondade
Se os bons são imediatamente liquidados,ou são liquidados
Aqueles para os quais eles são bons?

De que serve a liberdade
Se os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Se somente a desrazão consegue o alimento de que todos necessitam?

2
Em vez de serem apenas bons,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne possível a bondade
Ou melhor:que a torne supérflua!

Em vez de serem apenas livres,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que liberte a todos
E também o amor à liberdade
Torne supérfluo!

Em vez de serem apenas razoáveis,esforcem-se
Para criar um estado de coisas que torne a desrazão de um indivíduo
Um mau negócio.

Recomeçando novamente




SER,    PARECER 

      [Mia Couto] 


Entre o desejo de ser
e o receio de parecer
o tormento da hora cindida


Na desordem do sangue
a aventura de sermos nós
restitui-nos ao ser
que fazemos de conta que somos.