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27/05/2011


 Como você 
Roque Dalton
 (El Salvador, 1935-1975)

Eu como você
amo o amor,
a vida,
o doce encanto das coisas
a paisagem celeste dos dias de janeiro.

Também meu sangue ferve
e rio pelos olhos
que conheceram o brotar das lágrimas.
Creio que o mundo é belo,
que a poesia é como o pão
de todos.

E que minhas veias não terminam em mim,
mas no sangue unânime
dos que lutam pela vida,
pelo amor,
pelas coisas,
pela paisagem e o pão,
pela poesia de todos.

04/05/2011

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!