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29/08/2011

A primavera






A primavera chega.
O jogo dos sexos se renova
Os amantes se procuram.
Um toque gentil da mão do seu amado
Faz o peito da moça estremecer.
Dela, um simples olhar o seduz.

Sob nova luz
Aparece a paisagem aos amantes na primavera.
Numa grande altura são vistos
Os primeiros bandos de pássaros.
O ar se torna cálido.
Os dias se tornam longos
E os campos ficam claros por longo tempo.

Desmedido é o crescimento das árvores
e pastagens da primavera.
Incessantemente fecunda
É a floresta, e os prados e os jardins
A terra faz nascer o novo
Sem medo

do livro Brecht Poemas 1913-1956 - pag 87





10/08/2011

Muito bom!!! Para quem acha que signo não é importante, é sim! Define a personalidade.

Áries - Esse, acha que a cuia é dele! Tu tá recém pondo a chaleira no fogo, e ele já tá ali, perguntando se tá pronto. Esbaforido, sempre se queima, ou fica com a bomba entupida, pois que não tem paciência pra esperar que a erva assente. Dá-lhe um trancaço, diz que no Natal ele vai ganhar uma cuia só prá ele. Não te preocupa, que é loco manso.


Touro - ele primeiro vê se a cuia é linda no más... depois, fica ali, acariciando a dita, com cara de libidinoso. Como em geral, é guloso pra caraca, te passa o mate, mas fica te olhando atravessado, e ruminando... como é do seu feitio. Não vale a pena discutir com o bagual, pois além de cabeçudo, quase sempre é o dono da cuia e da bomba.


Gêmeos - o vivente já entra no rancho falando e contando causo, trovando e matraqueando que é um inferno. Tudo isso, com a cuia na mão. Até que o povaréu começa a ficar nervoso. Conselho: antes que esfrie até a água da térmica, saiam de fininho e vão tomar mate em outro lugar. Ele nem vai notar.


Câncer - esse já pega a cuia com ar de desolado, pois que a cuia lhe lembra a mãe. De tão sentimental, às vezes, até chora, lembrando do primeiro chimarrão (que a gauchada nunca esquece). Quando sente medo do escuro, dorme com a cuia embaixo do travesseiro. E tem pencas de cuias e bombas entupindo as gavetas... de recordação, diz o infeliz...


Leão - loco e convicto, não é que me inventou de mandar gravar um brasão de família na cuia e outro na bomba? Só toma chimarrão se tiver um povo em volta pra ficar lhe olhando, e aí, aproveita, e desata a trovar e a declamar, esperando que lhe aplaudam. Sempre é bom não contrariar.


Virgem - Primeiro, ele lava as mãos e todos os apetrechos, depois, confere se a erva é ecológica, e por aí vai. Acha que, o certo mesmo, era cada um ter a sua própria cuia, bomba e mate. Mas, por via das dúvidas, carrega sempre um paninho que, discretamente, vai passando no bocal da bomba. Como é metido a botiqueiro, e conhece todo tipo de erva deste Rio Grande, enquanto mateia, vai dando receitas e curando, de lombriga a esquizofrenia.


Libra - Flor de fresco, chega a pegar a bomba com o dedinho levantado. Mas compensa, pelo senso de justiça. Só toma o mate depois que todo mundo já se serviu. Pra ele, matear, também pode ser sinônimo de namorar; daí que, se prenda, só faz roda de mate com a indiada marmanja, e, se marmanjo, põe açúcar e mel na cuia, e vai, todo lampero, pro Brique, ver se atrai as mosca, quer dizer, as moça.


Escorpião - pega a cuia, e matreiro... sai de fininho para algum canto, remoendo traumas, encucações e toda a sorte de loucuras. Sem essa de que vingança é um prato que se come frio, pois que, na água quente do amargo, fica tramando seus planos de vingança (inclusive, e principalmente: Revolução Farroupilha, a revanche!). E, ai daquele que não lhe passar a cuia. Outro que tem fantasias sexuais com a cuia, com a bomba e com a térmica. Só não me pergunte quais.


Sagitário - em geral estrangeiro, pois sagitariano que é sagitariano, nunca está em seu país de origem; aqui, no Rio Grande, pode ser um carioca, paulista ou baiano que, sem entender nada de tradição, fica mexendo o mate, com a bomba como se o amargo fosse um milk-shake. Conheci um que queria misturar mate com fanta uva.


Capricórnio - inventou o tele-chimarrão com pingo-boy e tudo, e o chimarrão de negócios, o qual pratica toda a sexta-feira na sua empresa, que, aliás, exporta cuia, bomba, erva e demais aparatos para a gringolândia. Diz que já tá fazendo até inglês largar o chá e pegar a cuia.


Aquário - rebelde até a última cuia, acha que esse negócio de chimarrão tá superado. Só não sabe pelo quê. Doido, mas metido a bonzinho, adora um povaréu; daí que, convida todo o vivente que estiver passando, pra sua roda de mate. Acha que se o chimarrão fosse servido na ONU, o mundo seria outro.


Peixes - inventou a leitura de cuia e recebe entidades durante a mateada. Se desconhece o tipo de ervas que usa... mas, diz que faz roda de chimarrão com os daqui e com os do além. Por isso, um conselho de amigo: se a roda de chimarrão for em outra estância, que volte de táxi.

09/08/2011

01/08/2011



 
OS FORMAIS E O FRIO

 
Quem iria prever que o amor                        esse informal
se dedicaria a eles            tão formais
 
enquanto almoçavam pela primeira vez 
ela muito lenta e ele nem tanto 
e falavam com suspeita objetividade 
de grandes temas em dois volumes 
seu sorriso                         o dela
era como um agouro ou uma fábula 
seu olhar                             o dele                    notava 
como eram seus olhos                    os dela
porém suas palavras                       as dele 
não se davam conta dessas doces questões 
como sempre ou como quase sempre 
a política levou à cultura
 
de modo que à noite assistiram ao teatro 
sem tocar-se uma unha ou um botão 
nem mesmo uma fivela ou uma manga 
e como ao sair fazia muito frio
e ela não usava meias 
só sandálias por onde apareciam 
uns dedos muito brancos e indefesos 
foi preciso entrar num boteco
 
e já que o garçom demorava tanto 
optaram pela confidência 
extra seca e sem gelo por favor
quando chegaram na casa                            dela
e o frio estava nos lábios                               dele
de modo que ela                               fábula e agouro 
lhe deu refúgio e café instantâneos
 
uma hora apenas de biografia e saudades 
até que enfim sobreveio um silêncio 
como se sabe nesses casos é duro 
dizer algo que realmente não sobre
 
ele tentou                           só falta que eu durma aqui
e ela                      tentou porque você não fica
e ele                      não me diga duas vezes
e ela                      bem por que não fica
 
de maneira que ele ficou                               a princípio
a beijar sem usura seus pés frios                               os dela
depois ela beijou os seus lábios                   os dele
que a essa altura já não estavam tão frios
e assim por diante
enquanto os grandes temas
dormiam o sono que eles não dormiram.

(Mario benedeti-1920)

28/07/2011


Em homenagem aos primeiros raios de sol da primavera, 
em meio a garoa e ao frio do inverno...

27/05/2011


 Como você 
Roque Dalton
 (El Salvador, 1935-1975)

Eu como você
amo o amor,
a vida,
o doce encanto das coisas
a paisagem celeste dos dias de janeiro.

Também meu sangue ferve
e rio pelos olhos
que conheceram o brotar das lágrimas.
Creio que o mundo é belo,
que a poesia é como o pão
de todos.

E que minhas veias não terminam em mim,
mas no sangue unânime
dos que lutam pela vida,
pelo amor,
pelas coisas,
pela paisagem e o pão,
pela poesia de todos.

04/05/2011

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento! ...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento ...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!